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Até sermos todos crianças…

por Elisabeth Mateo, em 22.04.14

Cavalinhos

Que ponham cavalinhos
em todas as ruas,
que encham de cavalinhos as cidades.
Séculos
levamos com o invento de festa em festa
sem descobrir sua humaníssima aventura.
Que celebrem os namorados
sua viagem nos cavalinhos,
de cavalinho em cavalinho.
Que cada família tenham seus cavalinhos,
todos nos cavalinhos!
Que os amigos
falem e sonhem e discutam
dando voltas nos cavalinhos.
E neles façam os ministros seus conselhos.
Enquanto houver ministros,
e neles reunam os senhores bispos,
naturalmente, revestidos
de senhores bispos,
enquanto forem bispos.
Os pobres subirão para rir-se do mundo;
e os ricos?
Que subam os ricos aos cavalinhos
enquanto todos aplaudimos-lhes!
E os senhorinhos!
Que subam os senhorinhos!
E que acorram todos os solitários, todos os vagabundos.
E o congresso dos deputados
será o congresso dos cavalinhos.
E os empresários, que risada, os empresários!
Que subam os empresários com os assalariados,
enquanto existam salários.
Os salários do medo!
E, aí: comités centrais,
máfias, seitas, castas, clãs, etnias:
aos cavalinhos!
E os músicos como os guardas-florestais
e o prefeito e os vereadores
com as vendedoras e os padeiros.
Viva! Viva!,
Gritarão as crianças quando vejam
que sobem os ilustres.
Aí, ilustres!
Aos cavalinhos!
Vamos à cidade a subir aos cavalinhos,
dirão os monges a seus abades.
E os académicos:
Que se reúnam os académicos nos cavalinhos
e que fechem as academias.
Ah, se todos os fi lósofos subissem aos cavalinhos!
Que ponham cavalinhos nas prisões,
nos quartéis,
nos hospitais,
nos frenopáticos,
e que fujam todos
montados nos cavalinhos.
E todos os juízes aos cavalinhos,
aí! Aí! Aos cavalinhos!
E nada de processos e de sentenças!
Basta de julgar os efeitos e não as causas!
Aos cavalinhos!
E que todos os funerais
se façam montados nos cavalinhos
ao passo silencioso e tranquilo dos cavalinhos.
É a nova ordenação,
é o novo preceito:
todos aos cavalinhos!
A cavalgada dos cavalinhos!
Para a confederação dos cavalinhos!
Até sermos todos crianças…

 

(Jesús Lizano)

Livro de poemas: Lizania em Lusitania

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publicado às 10:20


Liberta, grita, vai salta

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